Do muito e do pouco


A gente se contenta com pouco
vangloria o abraço frio
a cabeça no meio das pernas
exalta o macho exaltado

A gente se contenta com pouco
porque tem um mundo todo
dentro de nós

E em volta é só bagunça
e dor
e paus querendo entrar e sair
entrar e sair

Mas não vão
não vão entrar mais

Porque a gente se contenta com pouco
mas tem que parar

Tem que ser desejante
sujeito
concedimento

Tem que ser bom
tem que ser dois

Tem que entrar porque quer
Porque é bom
porque faz bem

Não entrar por entrar
chutar portas
estourar janelas
pisar com os pés sujos no chão de mim
(no chão de você)

[Tire os sapatos para falar comigo, menino]

A gente se contenta com pouco
mas não devia

Devia era se esparramar sem medo
no corpo de quem também se esparrama
No corpo de quem não é chute, força, bola de angústia na garganta

A gente se contentava
Mas o pouco nunca vai ser muito
quando a gente começa a enxergar

que se contentar
é estar contente
não só porra, pouco e nada

que em dança de dois
só é par quem sabe
que o muito é a única forma
de se saber gozo, corpo
e coração batendo por todos os lados.
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