Eu gostaria
na verdade
de não me abalar
tão facilmente
com as coisas
Todas elas
as gigantes
e as minúsculas
Eu gostaria apenas
não é pedir muito
de um pouco de paz
Mas
é sempre uma desordem
mãos suando nas manhãs vazias
corpo cheio de formigas
como se fosse mel que escorresse
pelos meus buracos
Eu gostaria de chorar mais
e pensar menos
de saber dizer não
de sofrer pouco com livros de poesia
de fazer o ar parar de faltar
Também gostaria de fingir menos
que sinto tanto
quando
na verdade
às vezes vou pra frente do espelho
pra poder me ver lambendo o pouco
da água salgada que escorre
Eu gostaria que as coisas fossem mais dóceis
visto que já tenho quase 30 anos
e o mundo é uma bola grande e dolorida
Mas continuo aqui
pernas abertas, braços escancarados
uma pontada no pulmão
(e ainda acho bonito)
Talvez a única coisa a fazer
seja mesmo
tocar um tango argentino.
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