"Só falo com a Dafne novamente na quarta-feira. Ligo pra ela de noite, antes de sair do serviço. Falo no celular, dentro do banheiro. Digo que preciso sentir o cheiro da nuca dela, o cheiro que ela tem na raiz dos cabelos atrás do pescoço. Quero sentir o gosto dela. Ela está na sala de aula, escuto ela saindo, diz que está indo pro pátio pra poder falar. Eu preciso ter ver, agora, digo. Preciso transar contigo agora, sem estar bêbado, nem cansado. Ela diz pra eu ir pegar ela na universidade. Saio do trabalho e vou. Vamos para um grande motel na zona norte. Peço a chave do quarto mais caro. Ela está usando o mais gracioso de seus vestidos, um que desenha seu corpo com perfeição. Ela me conta que deram o estágio pra uma outra pessoa. Eu arranco o vestido dela e beijo cada parte do seu corpo, faço dedicadamente cada coisa que eu sei que ela gosta que eu faça, fodo ela com a língua, boto ela de quatro metendo rápido, fundo, e agora acredito que meu trabalho, meu roteiro inacabado, tudo que eu queria ter escrito mas não consegui, minha poupança, nosso futuro apartamento,o mecenato, o rum e o chá de pêssego, os livros e os CDs, o Chile e os estágios, tudo isso junto não vale o momento em que ela olha pra mim por cima do ombro, com lágrimas nos olhos, dizendo Faz o que tu quiser comigo, faz o que tu quiser. Eu faço. E depois de tudo, deixo o quarto à meia-luz, somos embalados pelo silêncio profundo do ar condicionado e da água da piscina térmica, cubro ela com o lençol, já quase dormindo ela me diz Boa noite e eu, exausto, respondo: Boa noite."
(p. 77-78)
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