Lembro que em toda Copa do mundo, desde muito pequena, eu sempre pensava: nossa, na outra copa eu estarei com tantos anos. De 1994, quando eu tinha 4 até 2014, quando eu tinha 24... na próxima, terei 28 anos. Na outra, 32. Parece bobo, mas isso me soou como uma baita dificuldade de lidar com o presente.
Estamos sempre nos lamentando pelo passado ou almejando o futuro. O que farei com 30 anos? Onde estarei aos 40? Será que não vou querer filhos mesmo? Ou será que a vida vai dar um giro e eu estarei em algum lugar totalmente diferente? Quais serão minhas perdas? Minhas dores? Minhas realizações? Onde eu quero estar daqui a 10 anos? É sempre um descolamento do tempo presente, que acaba me afastando de quem eu quero ser hoje. E ainda mais importante do que isso: de quem eu posso ser hoje.
Valter Hugo Mãe, escritor angolano, mas que cresceu em Portugal, tem a seguinte frase, do livro O filho de mil homens: "Ser o que se pode é a felicidade". Desde que a li, alguma coisa íntima e grande se remexeu dentro de mim e cada vez mais eu tenho pensado exatamente isso: não se trata de ser o que se quer, mas ser o que se pode. E entre o que se quer e o que se pode há um quadro cheio de imensos matizes, com buracos negros e via lácteas criadas dentro da nossa cabeça.
Mesmo assim, tenho me apegado à frase. Acho que mais do que focar no que não se pode, trata-se de olhar para as centenas de possibilidades do momento presente. Ser o que se pode é também olhar para o hoje, para os quereres da vez; respeitar nossos limites, nossas amarras, o tamanho dos passos que podemos dar, mas também se descolar de um papel paralisado e seguir caminhando. Não é tanto como Carpe Diem, o famoso lema arcadista. É maior que isso, talvez. É mais como olhar para os nossos desejos e nos colocarmos na cena do aqui e do agora. Sem pretérito imperfeito ou futuro do presente, mas presente - simples e sem imperativo.
Ás vezes as pessoas à sua volta não entendem a sua jornada. Elas não precisam, isso não é para elas. |
Meu Deus, esse post foi escrito mim <3 Amei muito. "Ser o que se pode é também olhar para o hoje, para os quereres da vez; respeitar nossos limites, nossas amarras, o tamanho dos passos que podemos dar, mas também se descolar de um papel paralisado e seguir caminhando." Vou anotar e ler todos os dias. Obrigada por esse post.
ResponderExcluirsimplesmente maravilhosa, como sempre <3 com huguinho e tudo.
ResponderExcluir(só uma coisinha: não sei se Carpe Diem é necessariamente um discurso vazio.
acho que só virou mais uma dessas frases-de-camiseta e, de tanto ser repetida, perdeu a força.)