Ménage à trois, mon amour


Entrei no quarto escuro de mãos dadas com aquele a quem chamo de amor.
Ela já esperava, sentada em frente ao computador, tentando escolher alguma música na falsa esperança de tirar o cheiro de velório do meu ventre, do nosso ventre.
Podia sentir dentro das minhas próprias entranhas as contrações de prazer que vinham de dentro dela. Coisa de mulher - você me diz. Coisa de mulher - te respondo em total afirmação.
O grande problema em fazer um ménage à trois, é que você perde o controle dos olhares - um dia eu te disse. Simplesmente perde. Meus seios, os seios dela, minha cintura, a cintura dela, o cheiro dos meus cabelos, o cheiro dos cabelos dela. Não se controla mais o olhar. Você não sabe, homem que és, não sabe fazer duas coisas ao mesmo tempo. Não consegue. Ou me olha, ou olha pra ela, com seus cabelos um pouco mal pintados e sua boca bem desenhada.
Desprendimento da carne, desprendimento da matéria. Vamos lá, meus amores. Vamos todos nos lamber enquanto o mundo grita por um pouco de amor, por um pouco de coração. Esqueçamos essas bobagens românticas criadas por algum poeta do século XVI cujo nome esqueci. Esqueçamos das respirações na nuca, das mãos juntas - grudadas de suor ou de esperma. Esqueçamos também dos movimentos cardíacos, da alma que se perde em uma saliva que escorre do canto da boca, do pulmão a se esforçar com tanta respiração contínua, do gozo dividido entre dois corpos e dois "eu te amos" ditos ao mesmo tempo.
Você tirou a minha roupa e começou a me beijar de um jeito diferente. Eu gostei.
Ela veio logo depois e me fez sentir coisas que eu nem sabia que existiam.
Nos possuímos feito três doidos, prestes a serem comidos por formigas carnívoras a qualquer momento. O único fim é o prazer. Doa a alma de quem doer.
O coração tem mais quarto que uma pensão de putas, disse Gárcia Márquez. Eu, no mais baixo escalão da literatura, com dois corpos suados deitados no tapete da sala, digo que o sexo tem mais portas que esta mesma pensão. O maior problema é que depois de abrí-las, não se é mais possível fechar.

Meu coração cede de tanta sede

Há algo dentro de mim que grita intensa e verdadeiramente pelo seu nome. É quase como se em cada pulsar de átrio ou ventrículo existisse uma sílaba de seu nome, um traço de seu rosto, um arrepiar de sua pele.
Quase posso dizer também que é como se até o universo inteirinho, e os planetas com seus anéis ou só com seu solo macio e nu, e o cosmo e os buracos negros e as estrelas – essas testemunhas de nós em tantos céus de alguns lugares (que parecem tantos) – trouxessem no próprio cerne os nossos nomes juntos, a nossa certeza escrita na própria essência, sabe-se lá como.
Ando eloquente. Falo de coisas que eu mal conheço, coloco os astros no meio da nossa história, brinco com os deuses. Zeus, Afrodite... Pouco me importa.
Perdi a sede de literatura, meu amor. Minha sede agora é outra.
Sede de navegar no teu corpo feito um barco português a desvendar mares nunca antes conhecidos, passear por caminhos e me perder em rodamoinhos de ventos que só sua respiração rente a minha pode me proporcionar, encontrar terras imagináveis e outras existentes e nelas hastear uma bandeira.
Tenho tanta sede, meu amor. Agora, do alto da vontade de você em que atiro essas palavras num papel sem vida, morro de sede. Uma morte doce. Sim, uma morte com o cheiro do seu lençol que não me sai da pele. Desse modo, me perco entre seu sorriso, seu dedo meio torto igual ao meu, seu pescoço arrepiado, sua boca vermelha, seu olhar tão adocicado e sorrio no meio das estrelas, do cosmo, dos buracos negros, das galáxias e de todos os deuses, que ao te sentir suspirar cansado e adormecer deitado em meus seios depois de uma noite longa, eu sei, também sorriem de volta para mim.
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