Isso não é literatura

(para se ler ao som de Se puder sem medo , de Oswaldo Montenegro)


Mas é isso. É Oswaldo. É uma grande merda, na verdade, mas é lindo ao mesmo tempo. Porque tudo é de um destino muito certo-incerto.
Todos nós, perdidos em cima de tantos corpos, temos tudo pra dar errado. É quase como se o “nós” nunca pudesse terminar uma frase sem se quebrar em mil partes.
Somos frágeis.  Nos perdemos no meio de tanta sede, tanta insatisfação.
A vida, os filhos, a rotina, a falta de vontade, o cansaço, o trabalho, a falta de sintonia.
Nada me parece tão triste do que casais que não se falam e nem se olham nas mesas de restaurantes. E eles existem aos montes, pra esfregar na cara dos casais-ainda-felizes, brincando de mostrar a comida já mastigada um pro outro ou tentando colar a colher no nariz que é esse o destino deles. Um vazio gigante e profundo do lado de alguém que um dia você chamou de amor.
Tudo colabora pra fazer dar errado.
Mas alguma coisa, em algum lugar, faz com que as pessoas – e são poucas! - queiram tentar. E construam de novo e de novo e assim pra sempre,  por toda manhã. É preciso aprender a desapaixonar e se apaixonar novamente. As relações são cheias de contradições. Não existe plenitude sem a consciência da ausência.
Porque é isso, construir toda manhã: fazer apaixonar toda manhã. E isso não envolve necessariamente cafés na cama ou flores esparramadas pelo quarto, inclusive tenho a teoria que são os babacas os mais aptos a fazer agrados desse tipo. Quando digo fazer apaixonar pela manhã, falo de uma dança inconsciente de pés se acariciando por debaixo dos lençóis cheirando a dois corpos. Falo de respiração na nuca, de beijo no olho, de encostar a cabeça no peito do outro pra ouvir as batidas do coração pelo simples fato de precisar de alguma prova real de existência. Uma epifania, que abre o olhar de cada um pra enxergar a manhã como uma possibilidade e não como uma obrigação. E a possibilidade do amor é doce.
E é dificílimo. Eu olho pras pessoas e algumas são péssimas juntas. Tem-se   preguiça um do outro. Simplesmente não fazem mais questão. Porque, como já percebi na minha primeira decepção amorosa, lá pelos 7 anos quando o menino do qual eu gostava foi morar na Tailândia com a família, só o amor não é o suficiente.
Nunca foi.
E é horrível de saber, mas, de alguma forma, é bonito de viver. Porque o agora, as pequenas coisas, são tudo o que a gente tem. E essas coisas ficam esquecidas, se perdem em coisas chatas, que deveriam ser menos importantes.
Mas enquanto elas ainda existirem – as pequenas coisas – há razão pra se tentar. Pra mim, isso é que deveria se chamar amor.

(escrito no começo do ano, mas nunca fez tanto sentido quanto agora)

5 comentários

  1. ai layse, você é tudo. Penso exatamente do mesmo jeito. Inclusive tenho pensado muito sobre isso esses dias, todos os meus amigos vivem esses relacionamentos de não se olhar mais no restaurante e me justificam o fato com "amor é assim mesmo, esfria". amor não é assim não, gente. não sei acreditar nesse mundo de relações mornas. tem como ser legal. é difícil, mas tem. pra que viver junto se não for pra ser pleno, né? o mundo anda muito triste. muito acomodado. sinto pena.

    mas ainda há razões para acreditar né? sempre tem. há de ter.

    besitos

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  2. As pequenas coisas são os adubos para que o amor floresça, com certeza que não é só o amor, não depende só dele, senao nunca superariamos decepções amorosas, de alguma forma nunca deixamos de gostar de quem um dia amamos, por mais que este tenha nos magoado, ainda resta uma herança daquele sentimento, infimo, mas ainda existe...

    Adorey a sugestão da musica, perfeita pra este texto *-*

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  3. Você é otima com as palavras; adoro ler tudo que é seu, parece tão meu, da um conforto, uma alegria, é todo meu pensamento traduzido em palavras tão belas de um jeito que eu jamais eu conseguiria! Parabéns! E continue ... Sou fã !!

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