As vantagens de ser invisível

p. 49
Fuçando no skoob, vi um comentário de uma leitora dizendo que esse é o melhor livro que já leu na vida porque foi o que mais mexeu com ela e a fez querer ser uma pessoa melhor.
O livro em questão é “As vantagens de ser invisível”, de Stephen Chbosky, e o que a leitora falou realmente faz muito sentido.
Quem não sabe bem do que se trata pode julgar a história meio bobinha. Inclusive conheço quem deixou de comprar um exemplar por estar na estante de “literatura infanto-juvenil” - como se esse tipo de literatura fosse menor ou soasse rasa para aqueles que já passaram dos 20. Tenho 23 e leio Lygia Bojunga, ou seja. Até aí, bem ok pra mim. O fato é que peguei pra ler esse livro de uma forma meio vou-ler-algo-mais-leve e fui realmente pega de surpresa pela sensibilidade, estilo e opção do autor por construir a narrativa em cima das cartas do protagonista para alguém que a gente não faz a mínima ideia de quem seja - e que talvez possa ser visto como o próprio leitor. Acertei na parte do algo-mais-leve, mas também tem muita coisa de absurdamente pesada nessa narrativa.
A história gira em torno de Charlie, um adolescente cheio de inseguranças e questionamentos. Ele está indo para o ensino médio, seu único amigo se matou e ele parece não ser muito bom com amizades - fala pouco e pensa muito. O fato é que Charlie acaba cruzando com Patrick e Sam, dois veteranos, e a relação dos três vai se desdobrando e construindo coisas novas pra Charlie.
Até aí a história é clichê, mas de repente o autor nos surpreende tocando em tabus e assuntos tensos de uma forma leve e sutil sem deixar de ser dolorido quando deve ser. Assuntos como o suicídio antes mencionado, homossexualidade, preconceito, drogas, aborto, violência contra mulher e pedofilia estão presentes no livro. E essas coisas não estão simplesmente soltas na narrativa, mas são construídas de uma forma a soar um pouco como “lição”,  não no sentido moralizante, mas talvez no sentido de abrir os olhos do leitor e fazer com que ele mesmo deseje ser uma pessoa melhor - como quis a leitora que cito no começo do texto. Ou talvez ainda no sentido de conseguir deixar as coisas ruins pra trás e saber lidar com isso. Esse ponto me fez pensar que esse é realmente um ótimo livro para ser discutido em sala de aula com alunos da mesma faixa etária dos personagens - final do ensino fundamental e começo do ensino médio. Quem sabe um dia...
Achei realmente bom porque já tive 15 anos e também não me sentia parte de nada. Porque tenho 23 e às vezes ainda me sinto da mesma forma. Porque esse livro diz muito mais do que está escrito. Porque me fez lembrar de coisas, de livros e de músicas. E provavelmente também vai te fazer lembrar de coisas, de livros e de músicas. E de como você costumava ser quando não se sentia parte de nada. Ou de como pertencer a algo pode ser bom e triste ao mesmo tempo. Ou de como existem Patrick’s e Sam’s na vida de todo mundo. Ou de como é quando eu me sinto infinita.

p. 221
Caso alguma coisa tenha te escapado desse texto é porque você ainda não leu o livro e ainda não sabe do que eu estou falando. E eu quero que você saiba do que eu estou falando. 
Se ainda não leu o livro, leia. O filme também é muito bom e bem fiel ao livro (o diretor do filme é o autor do livro, ou seja).

Sem saber onde pôr as mãos

Acabei de ler A primeira pessoa, da elogiadíssima Ali Smith. O fato de ser quase 5 horas da tarde de um domingo que insiste em pingar é a explicação por não escrever muita coisa sobre esse livro. 
Por muita expectativa ou momento errado, não gostei. Apesar disso, o último conto, que dá título ao livro, foi o único que conseguiu realmente me causar algo - ou dizer o que eu preciso/quero ouvir agora. Enfim. Tá aqui:

"Você não é a primeira pessoa com quem eu já fui tantas vezes pra cama no mesmo dia,  eu digo.
Espero que não, você diz.
Você não é a primeira pessoa que me renovou, eu digo.
E não serei a última, você diz.
Você não é a primeira pessoa que pensou que podia ser meu salvador ou minha salvadora, eu digo.
Eu é que nunca ia ter esse tipo de presunção, você diz.
Você não é a primeira pessoa que espirrou seja lá que suco de amor que você espirrou nos meus olhos pra eu ver as coisas de um jeito tão diferente, eu digo.
Ãh? você diz.
Aí você faz a cara inocente que faz quando está fingindo que não entende.
Você não é a primeira pessoa com quem e já tive conversas boas que nem essa, eu digo.
Eu sei, você diz. Já passei por tudo isso, e tal. Você se sente no auge da experiência.
Valeu mesmo, eu digo. E você não vai ser a primeira pessoa que me deixou por causa de outra pessoa ou de outra coisa.
Bom, mas se tudo der certo isso ainda vai demorar um tanto, você diz.
E você não é a primeira pessoa que, que, ãh, que -, eu digo.
Que te deixa sem saber onde pôr as mãos? você diz. Bom. Você não é a primeira pessoa que já sofreu por amor. Você não é a primeira pessoa que bateu na minha porta. Você não é a primeira pessoa por quem eu arrisquei um braço. Você não é a primeira pessoa que eu tentei impressionar com minha brilhante performance de quem finge que não se impressiona com nada. Você não é a primeira pessoa que eu faço rir. Você não é a primeira pessoa e ponto final. Mas você é a única pessoa agora. Eu sou a única pessoa agora. Nós somos as únicas pessoas agora. Isso basta, né?" 
(p. 143-144)
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...