Sem saber onde pôr as mãos

Acabei de ler A primeira pessoa, da elogiadíssima Ali Smith. O fato de ser quase 5 horas da tarde de um domingo que insiste em pingar é a explicação por não escrever muita coisa sobre esse livro. 
Por muita expectativa ou momento errado, não gostei. Apesar disso, o último conto, que dá título ao livro, foi o único que conseguiu realmente me causar algo - ou dizer o que eu preciso/quero ouvir agora. Enfim. Tá aqui:

"Você não é a primeira pessoa com quem eu já fui tantas vezes pra cama no mesmo dia,  eu digo.
Espero que não, você diz.
Você não é a primeira pessoa que me renovou, eu digo.
E não serei a última, você diz.
Você não é a primeira pessoa que pensou que podia ser meu salvador ou minha salvadora, eu digo.
Eu é que nunca ia ter esse tipo de presunção, você diz.
Você não é a primeira pessoa que espirrou seja lá que suco de amor que você espirrou nos meus olhos pra eu ver as coisas de um jeito tão diferente, eu digo.
Ãh? você diz.
Aí você faz a cara inocente que faz quando está fingindo que não entende.
Você não é a primeira pessoa com quem e já tive conversas boas que nem essa, eu digo.
Eu sei, você diz. Já passei por tudo isso, e tal. Você se sente no auge da experiência.
Valeu mesmo, eu digo. E você não vai ser a primeira pessoa que me deixou por causa de outra pessoa ou de outra coisa.
Bom, mas se tudo der certo isso ainda vai demorar um tanto, você diz.
E você não é a primeira pessoa que, que, ãh, que -, eu digo.
Que te deixa sem saber onde pôr as mãos? você diz. Bom. Você não é a primeira pessoa que já sofreu por amor. Você não é a primeira pessoa que bateu na minha porta. Você não é a primeira pessoa por quem eu arrisquei um braço. Você não é a primeira pessoa que eu tentei impressionar com minha brilhante performance de quem finge que não se impressiona com nada. Você não é a primeira pessoa que eu faço rir. Você não é a primeira pessoa e ponto final. Mas você é a única pessoa agora. Eu sou a única pessoa agora. Nós somos as únicas pessoas agora. Isso basta, né?" 
(p. 143-144)

3 comentários

  1. Que trecho sensacional, Layse!

    Acho que precisava ouvir isso também (e fazer com que a outra pessoa também ouvisse...).

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    Respostas
    1. é incrível, né, rafa? acho que todo mundo precisa ouvir isso uma hora ou outra (talvez em todas as horas!). <3

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  2. "Isso basta, né?" PAM.
    É, às vezes basta.
    Brigada por mostrar o único texto bom do livro, hehe.

    :*

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