Razões para começar a ver Master of none

O que você tá fazendo da sua vida que ainda não começou a ver Master of none?
Sim. Mais uma série. Não, ninguém tem tempo pra tantas. Mas essa me pegou de jeito na última semana e já terminei a primeira (e única) temporada em uma tacada só.
É mais uma produção original do Netflix, esse Deus da contemporaneidade, que acaba com nossa vida social e destrói nossos relacionamentos, mas quem liga pra isso quando se tem Orange is the new black, Master of none, Jessica Jones e mais uma pá de coisas, não é mesmo? 

Se você ainda tá em dúvida se começa ou não assistir mais uma série, olha só algumas razões:

1- A série é curtinha, daquelas de 29 minutos, que você assiste numa sentada, e só tem uma única temporada até agora. Rapidinho de ver :)




2- A trilha sonora é MARAVILHOSA. Sério, a cada episódio eu me surpreendia mais. No Spotify tem uma playlist com algumas músicas da primeira temporada. Juro, é de ajoelhar e agradecer a cada vez que uma música maravilhosa aparece - e isso acontece muitas e muitas vezes.

3- Identificação: Geração Y, presente! Quem gosta de Girls, da HBO, provavelmente vai curtir essa também. Digo isso porque as duas séries tem muitos pontos em comum: Nova Iorque, jovens adultos tentando fazer alguma coisa da vida e questionamentos típicos da geração de 20 e alguns anos. 






3- Representatividade: Dev, um protagonista indiano zero estereotipado, que manda uma real bem necessária em vários momentos. Além disso, os outros personagens são bem múltiplos: asiáticos, negros, lésbicas etc - assim como a vida real :) A série me incomodou um pouco nos 6 primeiros episódios por não passar no teste de Bechdel. Mas o sétimo episódio é praticamente uma longa reflexão sobre o que é ser mulher, representatividade feminina e outros pontos que estavam meio em falta no resto da série. Ou seja: apesar de tardiamente, conseguiu ganhar meu coração até nisso.




4 - É engraçada. E eu sou MUITO chata pra séries de comédia. Não esboço meio riso com Friends e não aguentei acompanhar How I met your mother. E olha, dei algumas risadas com Master of none. Não foram gargalhadas, mas a série nem tem isso com objetivo. É engraçada, sem ser bobinha. Uma série gostosa de assistir, com personagens carismáticos tocando em assuntos tensos sem deixar um clima pesado.




5- A referência à Sylvia Plath. Não sei se isso caracteriza spoiler, porque não é lá algo tããão relevante para a trama, mas caso você se incomode, pare por aqui. Há uma puta referência à Sylvia Plath e seu ótimo romance A redoma de vidro. Li esse livro no começo do ano passado e fiquei bem abalada. Dev lê um trecho foda no último episódio. Este aqui:

"Eu me sentia como um cavalo de corridas em um mundo sem hipódromos, ou um campeão universitário de futebol repentinamente confrontado com Wall Street e um terno de executivo, seus dias de glória reduzidos a um pequeno troféu dourado na prateleira, com uma data gravada com num túmulo. 
Eu via minha vida se ramificando à minha frente como uma figueira verde daquele conto.
Da ponta de cada galho, como um enorme figo púrpura, um futuro maravilhoso acenava e cintilava. Um desses figos era um lar feliz, com marido e filhos, outro era uma poeta famosa, outro, uma professora brilhante, outro era Ê Gê, a fantástica editora, outro era Constantin e Sócrates e Átila e um monte de amantes com nomes estranhos e profissões excêntricas, outro era uma campeã olímpica de remo, e acima desses figos havia muitos outros aque eu não conseguia enxergar.
Me vi sentada embaixo da árvore, morrendo de fome, simplesmente porque não conseguia decidir com qual figo eu ficaria. Eu queria todos eles, mas escolher um significava perder todo o resto, e enquanto eu ficava ali sentada, incapaz de tomar uma decisão, os figos começaram a encolher e ficar pretos e, um por um, desabaram no chão aos meus pés." (p. 88-89)

Se convenceu? Então vai lá, assiste, e depois me conta se gostou! ;)

O resto é mar

O Rio de Janeiro me colocou em outra dimensão. Comecei a tomar sol, bebi água de coco todas as manhãs, caminhei do começo de Copacabana até quase o final do Leblon. Tive cãibras à noite, mas não liguei. Tomei vários banhos ao dia, usei batons coloridos logo de manhã, dei mais "bom dia" do que o usual.
No Rio, eu mergulhei todo dia no mar, não liguei pra areia no corpo, pra falta de água doce. Vi a cidade de cima do Mirante do Leblon e sob os pés do Cristo Redentor. Me emocionei no Rio. Tomei uma média de café com leite no bar da esquina, procurei Chico Buarque no posto 10, me apaixonei por mate com limão, achei o biscoito globo apenas mais um biscoito polvilho - mas comi mesmo assim, várias vezes. Peguei ônibus, conversei com motoristas. Um deles não entendia porque as pessoas estavam tão desconfiadas, que uma moça quase o ameaçou porque ele não tinha 20 centavos de troco. Depois falou: “É natal, gente. Por favor, vamos ser melhores”. O Rio é uma cidade linda que implora todo dia pra que a gente seja melhor, mas não dá certo às vezes – principalmente longe da Zona Sul. 
O Rio tem também garçons que não conferem troco porque “confiam em você”. Mas o Rio é implacável,  e você também nota uma moça grávida e com problema psiquiátrico torrar no sol sem que ninguém faça nada. O Rio é bem injusto também. Primeiro dia na praia e dois meninos negros,  sozinhos, preparando-se para tomar um banho de mar, foram abordados por policiais sem o menor motivo. Ao meu lado, a moça tomando sol, que há pouco tinha defendido a polícia de São Paulo, “a melhor que existe, apesar de violenta”, concordou: “polícia sabe o que faz”. Acho que ela não tem lido os jornais.
Mas o Rio é uma contradição ambulante e quase entristece a gente com tanta beleza. Você quer poupá-la, experimentá-la aos pouquinhos. O Rio te presenteia com coincidências. Ele te faz virar em uma rua aleatória e de repente essa rua é a Vinicius de Moraes. O Rio é um clichezão, mas que você não consegue evitar. Então você vai até o mar, primeiro quase cai com a força das ondas no rasinho, depois avança, e, olhando o sol brilhar atrás do Vidigal, você canta: “Lembra que tempo feliz, ai que saudade, Ipanema era só felicidade, era como se o amor doesse em paz. Nossa famosa garota nem sabia a que ponto a cidade turvaria este Rio de amor que se perdeu. Mesmo a tristeza da gente era mais bela e além disso se via da janela um cantinho de céu e o Redentor.... É, meu amigo, só resta uma certeza, é preciso acabar com essa tristeza, é preciso inventar de novo o amor”.

Eu não conhecia o Rio. Primeira vez em 2015, aos 25 anos – quase 26. Andei de bicicleta, passeei pelo Jardim Botânico, me encantei pelo Parque Lage. Comprei uma canga, na esperança de ainda usá-la em muitos parques e praias deste mundo maluco. 

Aqui em Londrina chove. Não tem mais mate, água de coco, guarda-sol, posto 11, bicicletinha laranja, as luzinhas do morro. Não passei batom nenhum e nem vou sair pra um mergulho. Comprei um macacão alegre e floridíssimo, super garota da praia. Só agora me dou conta de que não sou essa garota. Mas fui, por seis dias.

Rio, você mexe com a gente. 



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