O resto é mar

O Rio de Janeiro me colocou em outra dimensão. Comecei a tomar sol, bebi água de coco todas as manhãs, caminhei do começo de Copacabana até quase o final do Leblon. Tive cãibras à noite, mas não liguei. Tomei vários banhos ao dia, usei batons coloridos logo de manhã, dei mais "bom dia" do que o usual.
No Rio, eu mergulhei todo dia no mar, não liguei pra areia no corpo, pra falta de água doce. Vi a cidade de cima do Mirante do Leblon e sob os pés do Cristo Redentor. Me emocionei no Rio. Tomei uma média de café com leite no bar da esquina, procurei Chico Buarque no posto 10, me apaixonei por mate com limão, achei o biscoito globo apenas mais um biscoito polvilho - mas comi mesmo assim, várias vezes. Peguei ônibus, conversei com motoristas. Um deles não entendia porque as pessoas estavam tão desconfiadas, que uma moça quase o ameaçou porque ele não tinha 20 centavos de troco. Depois falou: “É natal, gente. Por favor, vamos ser melhores”. O Rio é uma cidade linda que implora todo dia pra que a gente seja melhor, mas não dá certo às vezes – principalmente longe da Zona Sul. 
O Rio tem também garçons que não conferem troco porque “confiam em você”. Mas o Rio é implacável,  e você também nota uma moça grávida e com problema psiquiátrico torrar no sol sem que ninguém faça nada. O Rio é bem injusto também. Primeiro dia na praia e dois meninos negros,  sozinhos, preparando-se para tomar um banho de mar, foram abordados por policiais sem o menor motivo. Ao meu lado, a moça tomando sol, que há pouco tinha defendido a polícia de São Paulo, “a melhor que existe, apesar de violenta”, concordou: “polícia sabe o que faz”. Acho que ela não tem lido os jornais.
Mas o Rio é uma contradição ambulante e quase entristece a gente com tanta beleza. Você quer poupá-la, experimentá-la aos pouquinhos. O Rio te presenteia com coincidências. Ele te faz virar em uma rua aleatória e de repente essa rua é a Vinicius de Moraes. O Rio é um clichezão, mas que você não consegue evitar. Então você vai até o mar, primeiro quase cai com a força das ondas no rasinho, depois avança, e, olhando o sol brilhar atrás do Vidigal, você canta: “Lembra que tempo feliz, ai que saudade, Ipanema era só felicidade, era como se o amor doesse em paz. Nossa famosa garota nem sabia a que ponto a cidade turvaria este Rio de amor que se perdeu. Mesmo a tristeza da gente era mais bela e além disso se via da janela um cantinho de céu e o Redentor.... É, meu amigo, só resta uma certeza, é preciso acabar com essa tristeza, é preciso inventar de novo o amor”.

Eu não conhecia o Rio. Primeira vez em 2015, aos 25 anos – quase 26. Andei de bicicleta, passeei pelo Jardim Botânico, me encantei pelo Parque Lage. Comprei uma canga, na esperança de ainda usá-la em muitos parques e praias deste mundo maluco. 

Aqui em Londrina chove. Não tem mais mate, água de coco, guarda-sol, posto 11, bicicletinha laranja, as luzinhas do morro. Não passei batom nenhum e nem vou sair pra um mergulho. Comprei um macacão alegre e floridíssimo, super garota da praia. Só agora me dou conta de que não sou essa garota. Mas fui, por seis dias.

Rio, você mexe com a gente. 



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