Seu beijo, seu texto, seu queixo, seu pêlo, sua coxa

(Para se ler ao som de Caetano Veloso – Deusa Urbana)

Não consigo mais escrever. E de repente começou a tocar Caetano. Já gritamos tanto com Caetano cantando ao fundo. E de repente comecei a pensar em nós. Somos tão próximos o tempo todo que eu sempre preciso da distância do seu corpo pra conseguir perceber as coisas com mais clareza. Não que eu não as perceba quando estamos colados, mas é que o mundo todo parece conspirar de um jeito bonito quando estamos perto. Nem penso. Não quero saber, simplesmente. Foda-se o meu curso de merda, foda-se o meu vazio de não conseguir tempo pra ler os livros que quero ler. Que se foda tudo bem grande enquanto você me fode em noites que correm com a lua nos invejando pela janela. Virei uma acomodada. E nunca me pareceu tão bonito a acomodação que o amor me causa. Colo de mãe, toalha depois de sair do mar.
Morreria ouvindo Caetano agora.
E Deus sabe o quanto queria te chamar pra dançar no meio da sua casa minúscula agora. E você me diria que não sabe dançar e eu te diria que eu também não sei e dançaríamos juntos e riríamos juntos do nosso mal jeito pro mundo, do nosso modo de esbarrar em cantos e de acordar falando sem parar no meio da noite.
Eu quase choro falando de você e sou tão boba quanto qualquer menininha de 14 anos que acha que acabou de descobrir o que é o amor. É que não consigo parar de pensar. Por mais que eu tente, eu não consigo.
Umbigo que sou, também não paro de pensar no modo como você precisa ir pra longe pra eu conseguir dizer o que eu sempre quero dizer mas que acabo não dizendo porque me enrolar no seu corpo já sem roupa e ficar cantando as músicas dos encartes de CD da sua casa às 2 horas da manhã são muito mais interessantes que a minha sede de literatura.
Eu quero gritar pro mundo bem em um daqueles dias em que eu acordo surtada, falando quinhentos palavrões por segundo, que porracaralhoimenso como eu te amo, meu menino.
E paro por aqui, sem a necessidade de trabalhar em um bom final – eu que sou tão viciada em bons finais – porque não quero te fazer minha literatura. Quero me fazer literatura e me entregar crua, muda e tua – beijo, texto, queixo, pêlo, coxa. 

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