A internet e o silêncio

Natalie Foss

Às vezes parece que eu só existo enquanto eu falo. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. 
A tristeza pede doses mais dramáticas. Versos são sempre bem-vindos pra tentar dar conta da bagunça. O contrário, a alegria, também costuma funcionar mais ou menos assim. Só que é um espernear sem tamanho. Geralmente vem em prosa, em fala não contida, em vontade de dançar.
Mas eu às vezes quero o silêncio. Preciso dele. Pode ser o sol que está em Câncer ou só aquela sensação de que de vez em quando a vida pede uma pausa pra respirar. Duas braçadas e o ar entrando ardido pelo nariz e pela boca. Mais duas braçadas.
Às vezes surge aquela vontade de ficar quietinha, da meia por cima do pijama, sem maquiagem, sem sutiã;  chegar em casa, tirar os sapatos e se tacar no sofá pra assistir qualquer coisa que fale por mim.
Mas como lidar com esse desejo silencioso em tempos de internet e redes sociais, esse mangue de palavra e som? 
Nessas últimas semanas tenho pensado muito isso. Nesse desejo de fazer-se ver como ideal, sem sombras, sem falhas, sem tristezinhas fundas e insistentes.
Não à toa, bate aquela bad trip quando a gente rola o feed do Instagram e pensa: essas pessoas conseguiram passar por este dia de uma forma que eu não consegui. A boa e a má notícia é: elas também não conseguiram.

Excesso de conteúdo & vida perfeita

Rede social e internet são simulacros e isso não é nenhuma novidade. Você é seu avatar e vende a saúde, a beleza, a boa vida. Pode vender também sua inteligência, seu bom senso, seu olhar crítico. Tudo depende. Apesar de algumas mudanças significativas, ainda há a necessidade de perfeição, seja na beleza, seja na coerência. Só que a perfeição não existe nem nesses casos nem em nenhum outro. Mas nadar em busca disso me parece o ritmo com o qual muita gente ainda dança, apesar das tentativas de fuga.
Fala-se muito por aqui. Há essa necessidade de expor, de botar pra fora. Textão is the new vômito e seguimos assim, nos virando do avesso. Junta-se isso ao ideal de vida perfeita, do avatar que não sofre, que não se deixa atravessar pelas ~adversidades~, e temos o n.1 do menu: o sentimento de fraude.
Não dá pra ser feliz o tempo todo. Não dá pra ser leve o tempo todo. E como falar sempre sem se mostrar frágil, torta, incapaz? A resposta, pra mim, está na pergunta. Retira-se o "sem". Não adianta fugir/fingir. Somos todos frágeis, tortos, incapazes. A mentira não cola mais. Não por acaso, a rede social que mais vem crescendo no momento é o Snapchat, que até então preza pelo real, pelo sem filtro, pela efemeridade que simula o diálogo entre as pessoas. Fala-se e as palavras se perdem por aí segundos depois. O que fica é a lembrança, o impacto, o riso.

Isso tudo pra dizer: como respeitar o próprio silêncio na internet?
Não tenho ideia, mas penso que a resposta não cabe aqui nem em nenhuma outra rede - e o desejo pelo silenciamento, infelizmente ou felizmente, não se autodestrói em 24 horas.

Youtube é ótimo, mas você já experimentou vida real?

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