Sobre amores inventados e outras poesias: as ilustrações de Sarah Barbosa

Amores inventados, buracos no peito, corações para fora do corpo. Sarah Barbosa constrói seu universo, como ela mesmo diz, entre letras, poesias e palavrões. É tudo meio aos trancos. Os personagens não estão prontos, nem inteiros: querem demais, insistem, pedem desculpas por sentir tudo tão à flor da pele e até tentam se proteger, mas fica difícil. Embora quase sempre perdidos, se jogam na vida mesmo entre solavancos. E são leves e doces - apesar das dores irremediáveis.
Eu conversei com a Sarah sobre inspirações, processo criativo e influências: 

Como o desenho surgiu pra você? você desenha desde quando?
Desde muito pequena eu desenhava. Era um "fica quieta, menina" da minha mãe. Em todos os lugares que íamos sempre tinha uma caneta bic e uma folha em sua bolsa pra me aquietar. O desenho surgiu monocromático, na bic vermelha, no papel improvisado, na igreja, no banco, em casa.
Como você define seu universo de criação?
Meu universo de criação nasceu primeiro do que eu escrevo. Só existe um desenho depois que existiu algumas letras, alguma poesia, alguns palavrões. Eu comecei ha poucos anos uma criação mais proposital, mais expressiva e autoral. Antes eu desenhava livre, pra nada, sem nenhuma ideia. Eram desenhos aleatórios, quase de observação - uma cadeira, um gato, uma arvore. Depois que fui colocando sentido nesses objetos. E aí a poesia e a rotina me ajudaram muito. A rotina é pesada, acontecem coisas pesadas - e bonitas também - e isso tudo cai no papel de alguma forma.

Quais são suas influências?
Três mulheres me influenciaram muito: Nina Pandolfo, Luíza Pannuncio e a argentina Augustina Guerrero. A Nina pelos traços mais infantis, pelas meninas-bonecas por vezes surreais e carregadas e pelas flores - que eu levei como influência direta no que eu faço. Já Luíza e Augustina, elas têm muito de si nos desenhos. É bem simples e autobiográfico. Eu comecei por vê-las se expressando e decidi me pôr também no que eu desenho.
O que te inspira e te faz parar tudo e criar?
As relações, as conversas, as historias - minhas e dos outros - os sentimentos e a poesia. É tudo sempre real. Eu tenho uma tendência a dramatizar tudo e escrever sobre isso. Às vezes, quando eu posto alguma coisa mais pesada ou triste, algumas pessoas vêm me perguntar se eu estou bem. É engraçado, eu explico que meus desenhos são licenças poéticas também. Nem tudo se passa comigo, ou nem tudo é tão pesado daquele jeito.
   
Como é seu processo de criação? É na base da inspiração mesmo ou você tem outros "métodos"?
Não tenho nenhum método de criação, embora eu me cobre pra tê-lo. É sim totalmente na base da inspiração, do "de repente", o que me dá uma inconstância e recesso às vezes - dias e até meses sem criar nada (o que eu acho ruim). Mas quando estou atenta, mais sensível ao redor, tenho uma overdose de idéias. Aí eu guardo algumas coisas pra chover nos dias de "seca", que eu sei que virão. E aí isso me ajuda, me impulsiona outra vez. E começa tudo de novo.



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