Sobre abajur e finais de ano

Tenho um abajur vermelho no criado-mudo. Toda madrugada ou manhã eu o derrubo sem querer, porque aparentemente ele é muito alto e sem uma base larga pra se safar da minha descoordenação ao verificar atualizações no celular.
Em que momento, aliás, passou a ser ok conferir atualizações no celular de madrugada? Acordo pra fazer xixi, abro o instagram, confiro os emails. Só spam. E descontos mágicos do submarino que fizeram com que eu comprasse uma caixa de livros que não vou ter tempo pra ler, ou, mais provável, que vou fingir que não tenho nada pra fazer pra ter tempo pra ler. Esse é o grande problema de estudar literatura. Você fica meio que impedido de ler literatura. O que é um grande e absoluto mal entendido.
Além de derrubar abajur toda madrugada, acabei de assistir 14 episódios de new girl seguidos, só parando pra comer pizza - isso talvez explique o fato de eu ter engordado 10 kg em 10 meses. E continuando.
Fim de ano é uma merda. Tenho vontade de limpar a vida toda, esvaziar armários, gavetas e prateleiras. Tudo parece estar no lugar errado. O quarto é pequeno e quente, os postais fazem curvas porque não estão presos nas quatro extremidades, os quadros caem das paredes por conta do meu TOC em nunca pendurá-los com pregos, e sim com fita adesiva que não funciona. Na pior das hipóteses, ainda temos pizza. O que é absolutamente ótimo.
23:41 de uma sexta e eu estou chapada de neosaldina e ainda me recuperando no Natal. Nunca chorei tanto. Mentira, já chorei, sim. Mas chorei consideravelmente no dia 24 de dezembro. Só parou quando me disseram: “apenas pare, o Natal acabou nos anos 90”. E isso fez um sentido enorme.
Odeio natal desde 1995, quando pedi uma boneca gloob gloob, que bebia suco e fazia xixi, e ganhei a bebê dentinho, que saltava os dentes de baixo quando alguém apertava sua mão esquerda - que tipo de pessoa compra um presente desses? Papai Noel acabou aí. Natal também. Minha mãe abriu o jogo: “É, Papai Noel não existe mesmo, eu deixei pra ir na loja na véspera e só tinha essa. Achei que ia gostar”. Nunca relei na boneca. A partir daí, open de drama na ceia e na vida. Merdas na primeira infância: só com muita psicanálise pra resolver.
Já já é ano novo, mais bad. Mas com um pouco menos de intensidade depois que descobri as bebidas alcoólicas (e isso já faz um tempo). Dia 2 de janeiro, quando tudo parece voltar ao normal, sempre me dou conta de que acaba de começar meu inferno astral. O que faz tudo ser bad outra e outra vez.
Vim escrever agora, nesse ano em que escrevi tão pouco, para simplesmente evitar o término de um livro que estou gostando muito. E dizer isso parece meio deslocado, mas é isso que tenho feito a vida toda: deixando de fazer as coisas das quais eu gosto muito pra que elas  durem mais. O que não faz nenhum sentido. Mas é assim: tenho timing errado pra vida. 
Talvez isso não seja verdade. Essa coisa de ter timing errado e coisa e tal.  A verdade única e incontestável é que eu sou uma reclamona incurável que não sabe muito bem o que fazer além de sofrer um pouco ouvindo London Grammar nesse 2013 que foi tão bom comigo.  Provavelmente vou continuar assim no próximo ano - neurótica grave e um pouco melancólica. Espero que escrevendo mais.


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