Tempo, tempo, tempo, tempo

Temos tanto a falar. Mas não falamos. Pinterest talvez seja melhor. Casas que não terei, apartamentos que não são os meus. Mas me inspiro. Crio painéis da vida que quero ter. Da casa, da maquiagem, do quarto, da família. Vejo o mundo pela tela. O céu, a paisagem, a festa, o show. A vida, afinal.
O despertador toca. Soneca. Toca de novo. A gente acorda. Verifica as novas mensagens, dá uma olhada no feed no Instagram. Responde snaps. Levanta. Vai ao banheiro. Escova dente, escova cabelo, toma banho, se troca. A gente toma o café com o celular na mão. Uma mordida no pão, uma descida no feed. 
A gente vai pro trabalho. Quase bate o carro gravando áudio, passa no sinal vermelho porque estava respondendo uma mensagem. A gente perde o ponto do ônibus porque estava distraído com outra coisa. A gente sempre está distraído com outra coisa.
A gente trabalha e confere o Facebook. E de repente é sugada por uma linha do tempo que não só não acaba como se reinventa a cada atualizar. E a gente não consegue sair. A gente abre dezenas de janelas. Artigos de opinião, crônicas, vídeos no Youtube, dados da economia. A gente quer saber de tudo. Se inteirar do que está acontecendo. A linha do tempo continua e o tempo cronológico corre. 18h. Deixamos coisas a fazer no trabalho e acabamos nem lendo todos os links. Na verdade mal lemos um. Passamos o olho. Lemos as manchetes ou metade, com a promessa de voltar pra eles mais tarde. A gente não volta. A gente salva no favoritos, no Get pocket, manda os links correndo para amigos, pra ler depois. Mas a gente não lê depois. 
A gente chega em casa. Finalmente chegamos em casa. E há milhares de séries para ver, milhares de livros para ler. Demoramos 1h no netflix para decidir assistir a um episódio de 30 minutos de uma série que nem vamos seguir. Pausamos. Respondemos mensagens, vemos snaps, mandamos snaps. Feed do Instagram. Linha do tempo do Facebook. Twitter. 120 caracteres. Temos tanto a falar. Mas não falamos. Pinterest talvez seja melhor. Casas que não terei, apartamentos que não são os meus. Mas me inspiro. Crio painéis da vida que quero ter. Da casa, da maquiagem, do quarto, da família. Vejo o mundo pela tela. O céu, a paisagem, a festa, o show. A vida, afinal.
23h. Está tarde. Snap de novo. É a melhor hora. O livro espera no criado-mudo. Há centenas de livros na estante. Livros não lidos, livros pela metade, livros esperando. Hoje juro que vou ler. Só mais uma olhadinha e pronto. Só mais uma. Amanhã coloco tudo em prática. Amanhã tiro o atraso. Amanhã leio o que tenho que ler, os links, os livros, as revistas, as matérias com mais de 10 linhas. Amanhã.
O despertador toca. Soneca. Toca de novo. A gente acorda.

5 comentários

  1. essa é a minha vida! fico até mal quando percebo como faço do meu iphone um terceiro braço rsrs
    Adorei o texto, vc sabe falar de tudo hein flor! <3
    :*

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    1. Essa é muito a vida de todo mundo, né? :( Acho triste e tô tentando me policiar. Mas é duro!
      E obrigada pelo elogio <3 Fique por aqui que vai ter mais coisa legal.
      Beijos!

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  2. Minha vida nesse texto. Qual é a da nossa geração? Mato aulas para ler poemas........... quem eu quero enganar? mato aula pra fazer exatamente isso: passar o olho, descer feeds, querer ler tudo e no final não ler nada

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    1. Realmente, não sei qual é a da nossa geração :( Tá difícil, né.
      Faço isso todo dia também. Tento fugir e quando vejo, puf, já tô lá de novo!

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  3. fiquei trist.

    mas Coração Nonsense é desculpa pra você falar-escrever mais (e muito) e motivo pr'eu abrir uma aba e ler tudinho que tá lá. <3

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