Itinerário

@kaspark
Viajava 117 km
Sem os pés tocarem o chão

Pela janela do carro
Minha mãe traçava um mapa afetivo
De rios, quebra-molas e pontes suspensas

Tibagi, Laranjinha, Cinzas
Esses montes de água
Eram todos oceanos
Enxurradas
Encharcando meu olhar de menina

Corre, criança!

Deixa molhar
Inundar
Transbordar

Decora a rapidez do velocímetro
A dança dos musgos, pedras, corredeiras
Bois de piranha, placas de sinalização
Botes inseguros, barcos à vela

(Os rios da infância
são
sempre
maiores
dentro de nós.)

Retardatário

Talvez nunca seja uma palavra um pouco forte
mas você nunca aparecia quando eu realmente precisava
quando eu pedia
e implorava

por declarações
cópias das chaves de apartamento
provas bobas de amor
(um bilhete, carinho nas costas, dedicatórias)

Nunca era às vezes
mas é tudo muito bagunçado do lugar que eu lembro agora
(pour ma mémoire)

O passo saiu errado
virou pisada no dedão do pé
unha encravada
farpa
fungo
calo

Desencontr amos

Errei também
talvez de uma forma diferente
de modo que nada disso pode ser medido

Mas já deu a hora
ninguém aguenta mais falar no assunto
nem eu
nem você
nem os nossos amigos em comum
que precisam ouvir duas vezes a versão da mesma história

Eu só preciso dizer
que você sempre chega atrasado

(Você sempre é exatamente o que eu preciso quando eu já não preciso mais)

Não sei se é a música do Caetano
o quereres
tão seus
sempre

Mas
apesar de nunca ser uma palavra muito forte
muito curta e muito afiada
você nunca estava quando eu precisava que você estivesse

Era sempre um atraso
um tropeço
uma caixa de entrada vazia
uma passagem adiantada
uma visita corrida

Você me disse palavras bonitas
agora
(foi há pouco)
e eu chorei uma grande poça d´água
mas passou

I can't do anything with your easy words, lembra?

(Não agora)

Mas você está certo
Matilde Campilho está certa
we've changed, honey boo
e tudo bem

É novembro
Está tarde
É hora de trocar os lençóis
enfim.

Acorda. Você está atrasado.

Clare Elsaesser 

Do muito e do pouco


A gente se contenta com pouco
vangloria o abraço frio
a cabeça no meio das pernas
exalta o macho exaltado

A gente se contenta com pouco
porque tem um mundo todo
dentro de nós

E em volta é só bagunça
e dor
e paus querendo entrar e sair
entrar e sair

Mas não vão
não vão entrar mais

Porque a gente se contenta com pouco
mas tem que parar

Tem que ser desejante
sujeito
concedimento

Tem que ser bom
tem que ser dois

Tem que entrar porque quer
Porque é bom
porque faz bem

Não entrar por entrar
chutar portas
estourar janelas
pisar com os pés sujos no chão de mim
(no chão de você)

[Tire os sapatos para falar comigo, menino]

A gente se contenta com pouco
mas não devia

Devia era se esparramar sem medo
no corpo de quem também se esparrama
No corpo de quem não é chute, força, bola de angústia na garganta

A gente se contentava
Mas o pouco nunca vai ser muito
quando a gente começa a enxergar

que se contentar
é estar contente
não só porra, pouco e nada

que em dança de dois
só é par quem sabe
que o muito é a única forma
de se saber gozo, corpo
e coração batendo por todos os lados.

Orfeu menos Eurídice (coisa incompreensível)


Sabe, a vida sem você é uma bagunça bonita. Tudo é uma outra versão da mesma coisa.
Eu não sei se você acordou às duas da tarde ou se resolveu levantar às sete, em um daqueles dias que você cisma que quer ser saudável, para de fumar e sai pra caminhar no parque.

Eu não sei quase mais nada de você. E acho que tudo bem.

Esses dias você me disse que é tudo muito triste, porque de fato a gente vai se acabando mesmo, até o ponto em que vai se esquecendo, se esquecendo e de repente tudo se resume a uma foto guardada no fundo da gaveta do criado-mudo que causa surpresa quando encontrada.  Quanto tempo passou, né?, nós vamos pensar.

É estranho sentir outras bocas, outros cheiros.

Mas é um estranho bom. Porque terminamos por aqui mas ainda existimos. Eu e você.
Não há mais nós no presente. Somos o que fomos - e isso não muda nunca.

Mas é bom deixar as coisas pra trás. Saber a hora de deixar ir.

Acho que isso, na verdade, é a equação mais difícil de um relacionamento. Cada parte da gente quer ficar, mas a gente sabe, sente ali no fundo, que é hora de ir. Que precisa. Tipo um abre alas para o coração: deixar os olhos verem outra coisa.

E eles veem. E como veem. E outras coisas surgem e outras pessoas surgem. Pessoas que você nunca tinha desconfiado da existência, mas que andam por aí e dançam e bebem e beijam.

Mas isso não apaga, não. Nada apaga a gente.  Eu sinto que vou ser meio que sempre um porta estandarte de tudo o que a gente viveu. Tá na minha pele. No mapa que você traçava com a ponta dos dedos com as pistas deixadas pelas pintas das minhas costas.

Seu gosto continua aqui.

Mas sigo. Preciso. Você também.

Quanta coisa que nem cabe. Que sorte a nossa.

Vai tua vida. Orfeu menos Eurídice (coisa incompreensível).

Imaginação

De todos os amores que eu tive
os que eu
não vivi
foram os
 m a i o r e s.

Breve reflexão sobre a crônica, o eu do cronista e o autor empírico

O texto do Gregorio Duvivier causou comoção nacional nesta semana. Eu o li, achei uma crônica bonitinha e segui a vida. Não entendi direito o porquê de todo o frisson, mas, lendo textos e comentários sobre, concluí: quando se trata da crônica, as pessoas não sabem diferenciar o eu do cronista do autor empírico
Explico: quando lemos um poema, não pensamos: nossa, olha essa poeta expondo seu boy; ou: nossa, olha esse poeta atravessando os limites do público e do privado. Isso tem uma explicação, claro. A poesia é "protegida" pelo eu lírico, essa espécie de persona poética, uma voz que permite dizer o que quer que seja dito. 
Do mesmo modo, no conto e no romance temos narradores - e por mais que sejam em primeira pessoa ou com toques claramente autobiográficos, é certo que há uma distinção entre narrador e autor. 
Na crônica, em específico, isso se confunde um pouco. E, claro, tem ligação com as características próprias do gênero: despretensiosidade, cotidiano, simplicidade, tom íntimo, proximidade com o leitor, enfim, a vida ao rés do chão. Apesar de suas muitas possibilidades, a crônica a como estamos acostumados hoje acaba remetendo a certa proximidade com a vida daquele ou daquela que a escreve. 
Não há como não se sentir próximo de Tati Bernardi, Antônio Prata, Milly Lacombe e do próprio Gregorio Duvivier - para citar alguns cronistas atuais. E era assim antes também, com Rubem Braga, Vinicius de Moraes, Fernando Sabino, Mário Prata, Clarice Lispector, Drummond...  A proximidade é real. Isso é indiscutível. Até pelo próprio suporte da crônica, que está lá, em sua essência, nas páginas do jornal, no folhear rápido e no encontrar de repente com uma voz parcial, que te diz mais coisas além de o que, quando e como. Cruzar os olhos com uma crônica entre as páginas do jornal nos faz quase que dizer: muito obrigada. É a eternidade na impermanência
Isso não quer dizer, no entanto, que um cronista tem compromisso com a verdade ou que está simplesmente passando no papel a sua própria vida, sem filtro, sem intenção literária. Ou melhor: isso não quer dizer que um cronista não ficcionalize as coisas e também a própria vida. A crônica é um gênero literário e é tão enganador quanto qualquer outro - talvez até mais, por exatamente simular o não engano. A crônica não é autobiografia.
Exatamente por isso, eu gosto da ideia, cunhada por Luiz Carlos Simon, de chamar essa voz da crônica, que às vezes tanto se aproxima do autor empírico, o autor de verdade, o nominho na frente da capa, de eu do cronista. Isso ajuda a separar as coisas e fazer com que a gente pare de soar como xerife de gêneros literários e colocar na fogueira escritores e escritoras que só estavam fazendo, adivinhe só, literatura. 

Respirar de novo

Eu descobri agora porque parei de repente de ler.
Hoje eu acordei, coloquei minha blusa vermelha de lã, a meia por cima da calça de moletom. Em casa, tão confortável, tão segura. Aqui, nada de ruim pode acontecer comigo. A cachorra lambe as patas, ansiosa. O gato se esconde embaixo da colcha, com medo do mundo. Gato de apartamento.
Mas aqui eu acho que estou segura.
Então eu resolvi tirar uma manhã inteira pra ler aproveitando o silêncio raro que paira por aqui. Estou sozinha e confortável. A porta está trancada, minha mãe foi pra casa da minha avó, casa que habita a maior quantidade de loucura por m² . Três filhos, dois esquizofrênicos.
Passei a minha infância inteira com medo de enlouquecer. Quando não era isso, era o medo da minha mãe morrer. Os vinte anos chegaram e lembrei do que sempre me disseram: é aí que a psicose bate. Já passei da metade da década fatídica e ainda nada. Eu já fui pro divã duas vezes, então devo ser mesmo neurótica. Histérica, mais provavelmente. Não sei. Mas e se Freud estiver errado e Lacan não tiver percebido? E se a loucura ainda bater por aqui e a minha analista não percebeu?
Eu tenho a sensação de que desde criança eu fico masturbando a minha mente o dia inteiro. Pensando o que fazer com a alegria quando estou feliz e o que fazer com a tristeza quando estou na merda. Não chego a nenhuma resposta para os dois casos e sigo compulsiva por pensar. Traçar planos e rotas e medos e histórias inventadas com pessoas que não conheço e que provavelmente nem sabem que são personagens da história mental absurda que invento todos os dias desde que me conheço por gente.
Eu consegui dar uma bloqueada em todos esses impulsos por um tempo. Um tempo que coincidiu com a maior ressaca literária da minha vida. Eu parei de ler.
Eu respirei fundo e consegui acordar cedo por um ano inteiro e cumprir com meus compromissos. Eu escrevi uma dissertação, eu desisti de escrever romances. Eu coloquei uma calça flare e uma bolsa de couro e pensei: agora sou adulta. Eu consigo. Não pode ser assim tão difícil.
É isso que os adultos fazem o tempo todo, né? Eles mentem que tá tudo bem enquanto procuram o tarja preta no fundo do bolso.
Eu falo pra minha analista que às vezes eu só queria que a minha cabeça parasse um pouco. Só queria não sentir às vezes. Acordar e conseguir fazer as coisas sem morrer de angústia no meio do dia. Sem chorar porque não cheguei a lugar nenhum, mesmo sem saber que lugar é esse que eu queria tanto ter chegado.
Eu explodi hoje. Depois de tanto tempo, eu explodi. E vejo agora que eu estava meio dormente, como se tivesse sentado em cima do meu próprio pé e não o pudesse o sentir por inteiro. Só que eu estava toda assim. E daí peguei um livro sobre guerra e mulheres pra ler neste domingo de manhã e não tive como continuar, porque a guerra contada por mulheres é a guerra subjetiva, é a guerra útero e sangue e tranças. Mas daí o estrago já tinha sido feito e restou essa bola de alguma coisa no meio da garganta. Aconteceu. Voltei a doer inteirinha, depois de tanto tempo. Arde e eu escrevo, arde e eu escrevo. Então finalmente consigo respirar direito de novo.

Os anos que passamos juntos

Depois que acabam, os anos que passamos juntos ficam parecendo memória inventada. A cama triplica de tamanho, o cobertor amanhece intacto sobre meu corpo. 
Eu posso escolher todos os filmes e pausar mil vezes pra anotar as minhas frases preferidas, fazer xixi  mil vezes ou começar a ver outra coisa. Ninguém diz nada, porque não há mais alguém.
Eu também posso dormir ainda nos créditos iniciais, ver séries de clones ou assistir aos meus desenhos preferidos - e posso chorar com o fim deles, porque eu sempre choro e você sempre ri, sempre ria, porque é uma pessoa que não entende como pode ser triste o final de Toy Story 3. 
"Eu já vivi isso antes", eu tento me lembrar. 
Fica tudo uma grande bagunça, em que você não sabe direito pra onde andar, como se vestir, como dançar sozinha no meio da pista. E então você busca um corpo amigo pra abraçar e dançar com você e fecha os olhos bem apertado e finge que tudo desapareceu e que você se basta. 
Mas talvez isso não seja verdade. 
Ou talvez seja, mas isso não faz das coisas menos doloridas agora.
É preciso reaprender a ser eu mesma.
O que eu desejo? Quem eu quero ser? Como será o próximo ano? Qual será o próximo passo?
Análise e bebida ajudam. Dançar é bom. Conversar com amigos. Sexo casual. Conversar com amigos de novo. 
Eu me distraio. 
Parece que vai dar certo. Já terminei o livro que comecei a ler ontem, já organizei a agenda, quero passar o ano novo no Deserto de Atacama. Curso de inglês do outro lado do mundo talvez seja uma boa - um lugar em que a gente não exista e eu tenha que inventar outros nós. Voltar a fazer exercício físico também pode ser bom. Começar a fumar pode ser uma boa ideia.
Quereres.
De repente agora aprendo de vez a ser adulta.

(Mas do café que eu faço de manhã ainda sobra uma xícara.)

A internet e o silêncio

Natalie Foss

Às vezes parece que eu só existo enquanto eu falo. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. 
A tristeza pede doses mais dramáticas. Versos são sempre bem-vindos pra tentar dar conta da bagunça. O contrário, a alegria, também costuma funcionar mais ou menos assim. Só que é um espernear sem tamanho. Geralmente vem em prosa, em fala não contida, em vontade de dançar.
Mas eu às vezes quero o silêncio. Preciso dele. Pode ser o sol que está em Câncer ou só aquela sensação de que de vez em quando a vida pede uma pausa pra respirar. Duas braçadas e o ar entrando ardido pelo nariz e pela boca. Mais duas braçadas.
Às vezes surge aquela vontade de ficar quietinha, da meia por cima do pijama, sem maquiagem, sem sutiã;  chegar em casa, tirar os sapatos e se tacar no sofá pra assistir qualquer coisa que fale por mim.
Mas como lidar com esse desejo silencioso em tempos de internet e redes sociais, esse mangue de palavra e som? 
Nessas últimas semanas tenho pensado muito isso. Nesse desejo de fazer-se ver como ideal, sem sombras, sem falhas, sem tristezinhas fundas e insistentes.
Não à toa, bate aquela bad trip quando a gente rola o feed do Instagram e pensa: essas pessoas conseguiram passar por este dia de uma forma que eu não consegui. A boa e a má notícia é: elas também não conseguiram.

Excesso de conteúdo & vida perfeita

Rede social e internet são simulacros e isso não é nenhuma novidade. Você é seu avatar e vende a saúde, a beleza, a boa vida. Pode vender também sua inteligência, seu bom senso, seu olhar crítico. Tudo depende. Apesar de algumas mudanças significativas, ainda há a necessidade de perfeição, seja na beleza, seja na coerência. Só que a perfeição não existe nem nesses casos nem em nenhum outro. Mas nadar em busca disso me parece o ritmo com o qual muita gente ainda dança, apesar das tentativas de fuga.
Fala-se muito por aqui. Há essa necessidade de expor, de botar pra fora. Textão is the new vômito e seguimos assim, nos virando do avesso. Junta-se isso ao ideal de vida perfeita, do avatar que não sofre, que não se deixa atravessar pelas ~adversidades~, e temos o n.1 do menu: o sentimento de fraude.
Não dá pra ser feliz o tempo todo. Não dá pra ser leve o tempo todo. E como falar sempre sem se mostrar frágil, torta, incapaz? A resposta, pra mim, está na pergunta. Retira-se o "sem". Não adianta fugir/fingir. Somos todos frágeis, tortos, incapazes. A mentira não cola mais. Não por acaso, a rede social que mais vem crescendo no momento é o Snapchat, que até então preza pelo real, pelo sem filtro, pela efemeridade que simula o diálogo entre as pessoas. Fala-se e as palavras se perdem por aí segundos depois. O que fica é a lembrança, o impacto, o riso.

Isso tudo pra dizer: como respeitar o próprio silêncio na internet?
Não tenho ideia, mas penso que a resposta não cabe aqui nem em nenhuma outra rede - e o desejo pelo silenciamento, infelizmente ou felizmente, não se autodestrói em 24 horas.

Youtube é ótimo, mas você já experimentou vida real?

Lista da semana: Especial Flip

A Flip me deixou silenciosa. Foi um mergulho de volta à literatura - de onde eu estava bem distante. É como se eu tivesse perdido um pouco o jeito de falar.

Mesmo assim, pra não deixar passar batido a Lista da semana, selecionei aqui minhas coisas preferidas da Festa Literária Internacional de Paraty.

Paraty é azul
Toda vez em que eu visito uma cidade, tento encontrar uma cor pra ela. Paraty é azul.

Luvas de pelica

Não sei por qual motivo só estão disponíveis os áudios das mesas, sem o vídeo. Mesmo assim, essa foi uma surpresa pra mim e vale muito a pena ser ouvida. Traz um olhar talvez mais acadêmico da obra da Ana Cristina Cesar, autora homenageada da Flip 2016.

Tati Bernardi e a volta à adolescência
Eu tinha 14 anos quando descobri em palavra um eco de tudo o que eu sentia. Um eco Tati Bernardi. Eu a lia compulsivamente. FIz trocentas comunidades no orkut (sdds) com minhas frases preferidas, esperava por cada texto novo com uma ansiedade incontrolável. 
Um dia, enviei um texto meu pra ela e aos 15 anos ganhei o mundo quando ela o publicou em seu site. Tati, do começo dos seus vinte anos, me deu a maior certeza que eu tenho até hoje: a escrita. 
Eu torci pela Tati como poucas vezes torci por alguém nessa vida. Comprei a primeira edição de seu primeiro livro, acompanhei cada conquista. Cresci com ela, sendo guiada da melancolia ao humor, do amor ao escracho. Enquanto a lia, sentia que a vida, mesmo que por poucos minutos, ficava mais bagunçada, mas, de algum modo estranho e inexplicável, também mais compreensível. 
Encontrá-la na minha primeira Flip, depois de mais de 10 anos como sua leitora, foi de encher o coração de amor e orgulho. 

Bombom da Maga
Sorry estragar a expectativa de apenas coisas literárias, mas o bombom da Maga ganhou meu coração <3 Comi todos os dias e ainda trouxe uma caixa pra casa - que, claro, também já non ecziste mais. Caso esteja com viagem marcada pra Paraty, sugiro que passe por lá todo dia e leve pra casa um estoque considerável.

Um poema triste
Ana Cristina
(Cacaso)

Ana Cristina cadê seus seios?
Tomei-os e lancei-os
Ana Cristina cadê seu senso?
Meu senso ficou suspenso
Ana Cristina cadê seu estro?
Meu estro eu não empresto
Ana Cristina cadê sua alma?
Nos brancos da minha palma
Ana Cristina cadê você?
Estou aqui, você não vê?

#11 - Lista da semana

25 - Adele
disco 25, da Adele, já tá inteirinho no no spotify Minha preferida, por enquanto, é I miss you. Baby, don't let the lights go down.

Tá chegando a Flip...
No dia 29 de junho começa a Flip, a famosa Festa Literária de Paraty. Será a primeira vez que eu estarei por lá e eu não poderia estar mais animada! Ainda mais com a autora homenageada, Ana Cristina Cesar, que já apareceu por aqui em outra Lista da semana e é com certeza uma das minhas escritoras preferidas. Fique de olho no meu Instagram e no Facebook que eu vou postando tudinho de mais legal que rolar por lá ;)



Carpool Karaoke

Eu sou completamente apaixonada pelo James Corden. Acho ele uma das pessoas mais legais do mundo todo. Junta isso com Karaokê, a minha coisa preferida vida e... it's a match! Adoro o quadro Carpool e esse com a Selena Gomez tá demais <3

Wake up, bitches!
Hoje tem uma festa muito massa no UP bar pra arrecadar fundo pra Marcha das Vadias de Londrina! Não dá pra perder! Cola lá ;)

"A Marcha das Vadias é um movimento surgido no Canadá contra a cultura do estupro, contra a cultura de culpar a vítima e julgar seu comportamento, suas roupas e seu passado. O caso do estupro coletivo acontecido recentemente no Rio de Janeiro, a reação de autoridades envolvidas e da população em geral nos mostra que essa luta está longe de terminar.

Por isso, dia 02 de julho tem Marcha das Vadias e vai ser lindo!
Só que para ser lindo precisamos de cartazes, faixas, carro de som e etc. Então sexta feira, dia 24 de junho, algumas das DJs mais bacanas da cena local se unem para uma festa em prol dessa causa: Amanda Corazza, Iakyma Lima, Caroline Dutra, Priscilla Faria e Katy Kakubo ♥."

Quando? 24/06 a partir das 21h
Antes das 23h R$7
Depois das 23h R$10
Arte: Manoela Silva

Do amor e outros demônios

Clare Elsaesser
O amor fez pouco caso do corte
Do sangue estancado
Do molhado do corpo

O amor tirou minha roupa
E me forçou a decorar sonetos
Exaltar poetas homens
Casar no papel com o cânone

O amor riu das minhas faltas
Perdoou meu pouco caso
Desfilou na avenida com buquês e confetes
(Apesar da fragilidade)

O amor me tacou um grão de arroz no canto do olho
Despetalou a flor vermelha
Colocou pra secar a pétala e já não lembra mais onde

O amor não é bonitinho
É um cão abandonado
Cheio de verme e de raiva

Que levado pra casa
De banho tomado
 Foge no outro dia
Deixando o portão aberto.

#10 Lista da semana

Festival Varilux
O Festival Varilux de cinema francês começou! Tem um monte de filme massa e super fora de circuito - pelo menos fora das capitais. A programação de Londrina tá aqui ó, mas você pode verificar as de outras cidades no site. Pra quem fica perdidinho com tanta opção, Mon roi (da foto), Agnus dei, Marguerite e Um belo verão estão na minha listinha. Me conte quais estão na sua! ;)

Oversized desconstruindo a silhueta e empoderando as minas
Esses dias teve um post por aqui sobre o oversized e o quanto eu estou amando essa pegada mais solta, de silhueta desconstruída. Eis que a leitora Cheel Morais (valeu! <3) comentou e apontou este post aqui, lá do Modices, e eu não poderia amar mais! Ó meu trecho preferido aqui:
Não é que todas as pessoas que optam pela silhueta desconstruída estejam fazendo uma “declaração de resistência” consciente. Mas a quebra dos padrão mulher-sexy-olhem-minhas-curvas acontece. A silhueta desconstruída se baseia da combinação do longo com o longo, do oversize + oversize, do exagero das formas em busca do conforto, diversão e uma posição em relação à moda. É uma tendência democrática, simples e que não requer que você compre nada novo para “fazer parte”. A cara dos novos tempos, não acha?
Henn Kim: para amar e tatuar
Já tinha visto as ilustrações da Henn Kim pelo pinterest e amado. Então ontem o Arthur Duarte, um dos ilustradores do cabeçalho lindo aqui do blog, veio me falar sobre ela, e o amor se reacendeu e se aprofundou. Que mina foda! É exatamente meu tipo de coisa e a minha vontade é tatuar todos os desenhos no meu corpinho! Me segura <3 Mas sério, conheçam e se apaixonem. Ela é maravilhosa!

The Last Shadow Puppets

Já falei de The last shadow puppets lá na página do Facebook (já curtiu?) e repito aqui: que duo, migs. A banda é composta por Alex Turner (#crush), do Arctic Monkeys, e Miles Kane, do The Rascals. É muito amor. Ouçam :)

Pra continuar sendo weird
Apenas um lembrete aos outsiders do mundinho. Não mudem.

#9 Lista da semana: cinco poemas de autoria feminina

Ana Cristina Cesar
é muito claro
amor
bateu
para ficar
nesta varanda descoberta
a anoitecer sobre a cidade
em construção
sobre a pequena constrição
no teu peito
angústia de felicidade
luzes de automóveis
riscando o tempo
canteiros de obras
em repouso
recuo súbito da trama

Adélia Prado
Corridinho

O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.
Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.

Angélica Freitas
Eu durmo comigo

eu durmo comigo/ deitada de bruços eu durmo comigo/ virada pra direita eu durmo comigo/ eu durmo comigo abraçada comigo/ não há noite tão longa em que eu não durma comigo/ como um trovador agarrado ao alaúde eu durmo comigo/ eu durmo comigo debaixo da noite estrelada/ eu durmo comigo enquanto os outros fazem aniversário/ eu durmo comigo às vezes de óculos/ mesmo no escuro sei que estou dormindo comigo/ e quem quiser dormir comigo vai ter que dormir do lado.

Alice Sant'anna
Ausência

tenho te escrito com calma
cartas em um caderno azul
arranco da espiral e não posto
por preguiça ou nem morta
tenho medo da espera
durante dias ou semanas um animal horrível
(espécie de raposa) vai me perseguir
por dentro, ou serei eu mesma
(um rato?) a me roer
enquanto a resposta não chega
perco muito tempo tentando
dar nomes aos bichos
que sobem a cortina do quarto.

Lorena Martins
A tempestade

no último degrau
(suspiro)
pro inferno carregue
teus sapatos vermelhos
teu suspeito convite
para dançar

respire
no the end
tudo o que eu digo é
lamento
não há como chover mais
neste dia embriagado

de solidão
sigo atropelável
pedindo suco de laranja
às lágrimas
pro vendedor de guarda-chuvas.

#8 Lista da semana

Essa colagem da Adelita Ahmad:
A Adelita Ahmad sempre faz umas colagens maravilhosas, mas acho que, entre todas, essa é a minha preferida. A foto é da Nan Goldin, uma das minhas fotógrafas preferidas. Essa mancha é de uma agressão masculina, ironicamente em forma de coração. Depois do caso esdrúxulo da menina que foi estuprada por mais de 30 homens no Rio de Janeiro, assunto do vídeo de ontem, Adelita consegue dar o recado da forma mais concisa e sensível possível: vamos nos apoiar, nos ajudar, limpar as dores, marcas e cicatrizes das outra e de nós mesmas. Força e resistência. Também coragem. Vamos juntas!

Uma música: Maria da Vila Matilde 

Essa letra, essa mulher! Cadê meu celular? Eu vou ligar prum oito zero. Vou entregar teu nome e explicar meu endereço. Aqui você não entra mais, eu digo que não te conheço e jogo água fervendo
se você se aventurar. Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim!

Isso tudo:
Não porque você tem uma irmã. Não porque você tem uma mãe. Não porque você tem uma filha.
Porque ela é uma pessoa.

Um poema:

An Answer to a Man’s Question,
“What Can I Do About Women’s Liberation?”, de Susan Griffin 

Wear a dress.
Wear a dress that you made yourself, or bought in a
dress store.
Wear a dress and underneath the dress wear elastic,
around
your hips, and underneath your nipples.
Wear a dress and underneath the dress wear a sanitary
napkin.
Wear a dress and wear sling-back, high-heeled shoes.
Wear a dress, with elastic and a sanitary napkin
underneath,
and sling-back shoes on your feet, and walk down
Telegraph Avenue.


Bazar de segunda:
Pra finalizar de um jeito mais leve e que também tem tudo a ver com todas essas coisas, que tal um encontrinho feito por mulheres e para mulheres? Para trocarmos roupas e ideias, abraços e palavras. Acho que vai ser bem bacana <3 Mais informações no evento do Facebook e aqui. Vejo vocês lá! 

Cadô: nova coleção, revalorização do artesanal, experimentação e amor

A Cadô é uma marca de acessórios cheia de amor, feita por duas irmãs maravilhosas, a Gabi e a Mari. A marca é nova, tem só um ano de vida, mas já dá o seu recado: "revalorizar o artesanal, criar peças de qualidade e com design atemporal, que permitam que os nossos clientes se identifiquem com o nosso produto, que mais do que modismos as peças representem seus estilos pessoais e possam ser usadas pela vida toda."

A Cadô acaba de lançar uma coleção novinha, Freezing e o novo site da marca vai ao ar no dia 2 de junho. Já vai preparando o coração! <3

Eu conversei com a Mari e com a Gabi, olha só:

Como a Cadô surgiu? 
 Gabi: A Cadô surgiu de uma forma meio inusitada. Nada exatamente planejado. Eu já tinha muitas referências acumuladas de anos de pesquisas pela internet, um banco de imagens gigantesco e umas marcas gringas que eu sou apaixonada como referência. Tudo bem autoral, diferente da maior parte das coisas que via por aqui, nas lojas e revistas. Acessórios feitos de diferentes materiais, mas com status de joia, principalmente pelo design. Quando saí do escritório em que era sócia (sou arquiteta por formação) acabei vendo nos acessórios uma oportunidade de negócio e acabei arrastando a Mariana comigo, rs.  

Influências e inspirações
A gente busca inspiração a cada coleção em coisas completamente diferentes, não somos rígidas quanto a isso. As inspirações vem de inúmeras coisas, nossa formação multidisciplinar nos faz olhar para o mundo de uma forma diferente

Por que acessórios?
Gabi: Os acessórios sempre foram minha paixão! Com as roupas sempre fui muito básica, mas nos acessórios via uma forma de expressar minha personalidade e meu estilo pessoal. Tenho memórias da minha infância de quando, no lugar das bonecas, eu colecionava brincos! Hahah! Juro! Arrumava, contava os pares, guardava com todo o cuidado. Na escola eu já achava o máximo misturar os modelos e usar brincos diferentes em cada orelha. Além de todo esse meu amor pelos acessórios, eu e a Mari sempre fizemos atividades manuais desde pequenas então foi fácil transformar isso na nossa marca. 
A nova coleção
A nossa nova coleção, Freezing,  tem um tema invernal, mas a mudança de clima, para nós que moramos no Sul, influencia muito no nosso modo de vestir, então acaba nos influenciando nas coleções também. A inspiração principal, como o próprio nome sugere, é o gelo e as formas que resultam dele. Nós usamos as cordas, que já são uma marca nossa, e as "congelamos" dentro de pedaços de resina transparente. As formas dos brincos se contrastam, umas mais orgânicas e outras mais angulares, assim como o gelo mesmo se comporta. Olhando de perto, foram impressas pequenas imperfeições em cada peça, na tentativa de se aproximar das formas da natureza onde o gelo se comporta de uma forma livre e imperfeita. Isso também dá características únicas a cada brinco, colar ou pulseira. Nós sentimos que nos aproximamos do cliente com essas pequenas imperfeições, ele vê ali uma marca das mãos que fizeram aquela peça. É uma forma de se comunicar com ele. 
  
Processo criativo
Mari: É bastante livre. Não pesquisamos tendências. Temos alguma inspiração e a partir dela pesquisamos os materiais para atender aquele desejo. Depois, o design das peças depende muito desse material, é mais experimental do que desenho mesmo. Como nós produzimos tudo por nós mesmas, isso é muito natural. A experimentação dos materiais parece funcionar melhor do que o papel em branco. É o tocar, sentir as texturas, manipular, dobrar e a partir disso criar o design daquele acessório. O processo é bem colaborativo, mas a Gabi é a head designer da marca e produz todas as peças, e eu ajudo na concepção da coleção, na produção e fico responsável pela comunicação visual da marca.

Cinco documentários para ver no Netflix

Cauby: começaria tudo outra vez
Perdemos Cauby essa semana, então, mais do que nunca, é uma boa hora pra ver ou rever o documentário, que traz entrevistas e momentos marcantes da carreira do cantor.

Hot girls wanted
O documentário é uma investigação sobre o pornô "amador" e a exploração das mulheres. Sempre quis muito ver esse e não tenho coragem - prevejo bad eterna, mas acho BEM importante que a gente saiba de algumas coisas.

Girl rising
Uma visão da juventude do século XXI por meio de nove meninas de diferentes partes do mundo focalizadas por nove cineastas.

Iris
A vida de Iris, uma lenda da moda de 93 anos <3

Em busca de Iara
Documentário que analisa as circunstâncias misteriosas do desaparecimento de Iara, uma mulher importante na luta contra a ditadura brasileira. Daquelas coisas que a gente precisa ver pra relembrar do nosso passado recente e não deixar que a história se repita.

Sem salto, com salto, como você quiser

Tá rolando o Festival de Cannes e o assunto da vez é a recusa em usar salto da parte de Julia Roberts, Kristen Stewart e Sasha Lane. Mais do que uma simples opção estética, essas três atrizes se posicionaram: renovaram o assunto do Festival de Cannes do ano passado, em que mulheres foram barradas/questionadas por não estarem de salto alto - entre elas, a produtora Valeria Richter, que tem um pé parcialmente amputado. 
Elas falaram por todas as mulheres cansadas de imposições e usaram a moda como posicionamento político - não é só sobre o que se usa, mas também sobre o que se escolhe não usar. 
Que o salto (e qualquer outra coisa) não seja uma regra, uma imposição. Seja, sim, uma escolha. E, mais importante: que nós, mulheres, não confundamos o que é imposição social com escolha - e essa linha é tênue e cheia de armadilhas. Conversar sobre todas essas coisas talvez seja uma boa forma de quebrar o que parece regra inviolável. Sigamos juntas, de pés no chão.

#7 Lista da semana

Pra ver já: o documentário She’s beautiful when she’s angry
Chegou ao Netflix o documentário She’s beautiful when she’s angry (“Ela é bonita quando está brava”). Já estou morrendo de vontade de ver! 
O longa relembra a história dos movimentos de mulheres dos Estados Unidos entre os anos de 1966 e 1971 e como eles impactam a realidade até hoje. É uma narrativa inspiradora sobre o poder das mulheres e sobre a mobilização social, contando como uma situação insustentável vivida por milhões de mulheres virou um movimento poderoso que culminou em mudanças concretas no país e em inspiração para o mundo todo. [...]
Como lembra muito bem uma das mulheres entrevistadas no documentário e que hoje vê as conquistas perdendo espaço em seu país,  “nenhuma vitória é permanente”. Que nunca paremos de lutar. (Estadão)
Madonna velha?
A rainha Madonna foi assim ao famoso Met Gala e, graças à minha boa curadoria de pessoas seguidas nas redes sociais desta vida, a mim não chegou esse chorume tão cedo. Só fiquei sabendo da polêmica pelo vídeo da excelente Lorelay - assistam agora, sério! Nele, a drag vai tocar em pontos importantes:
Existe idade limite pra você se sentir sexy e desejada? Ousadia tem prazo de validade? Depois dos 40 você deve abdicar da sua vida sexual e se tornar uma dona de casa comportada? Por que as mulheres mais velhas não podem expressar seus desejos, não podem usufruir do seu corpo, não podem se sentir gostosas?
Isso, aliás, tem tudo a ver com a Lista da semana da sexta passada, especial Audrey Hepburn, que questionou exatamente o porquê da atriz ser sempre mostrada como nos tempos da juventude.

Vasinhos de concreto
Sou muito fogo no rabo do DIY! Sempre me apaixono por vários e acabo fazendo um total de: zero. Mas tô querendo mudar isso, já que estou apaixonada por esses vasinhos de concreto, que são vendidos por uma facada por aí, mas que ficam baratex se você fizer em casa. Olha um vídeo ensinando direitinho! Bora fazer?

Pra variar, estamos em guerra! Você não imagina a loucura...

Ontem já fiz uma lista pra gente pensar numas coisinhas aí... Essa é mais uma delas, que podia facilmente ser a trilha sonora da semana. É, tá cada vez mais down!

Pra não esquecer
Ps: Eu espero que você se sinta bonita hoje.

Cinco músicas pra gente pensar numas coisinhas aí

Um bom dia pra gente ouvir de novo umas músicas e pensar numas coisinhas aí...

Podres poderes - Caetano Veloso
Será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América católica, que sempre precisará de ridículos tiranos. Será, será, que será? Que será, que será?

O bêbado e o equilibistra - Elis Regina

Mas sei que uma dor assim pungente não há de ser inutilmente. A esperança dança na corda bamba de sombrinha e em cada passo dessa linha pode se machucar.

Apesar de você - Chico Buarque

Quando chegar o momento, esse meu sofrimento vou cobrar com juros, juro. Todo esse amor reprimido, esse grito contido,esse samba no escuro.

Carcará - Maria Bethânia
Carcará num vai morrer de fome. Carcará, mais coragem do que home. Carcará!

People have the power - Patti Smith

I was dreamin' in my dreamin' of an aspect bright and fair and my sleepin' it was broken but my dream it lingered near.

Decoração padronizada (ou como a gente deve se inspirar sem esquecer de quem a gente é)

Com o boom dos perfis de apartamentos no Instagram, que estourou mesmo com o belo apartamento 33 e seu estilo escandinavo e industrial, muita gente - eu incluída - se sentiu impelida a minimalizar a casinha.
Fonte: Instagram /rayzanicacio

O resultado? Uma maré de gente querendo apartamentos iguais, com pelegos, almofadas de cruzinha, tapetes p&b, acabamento metrô white, cobre e tudo mais o que tiver direito. Qual o problema disso? Nenhum! Nenhum mesmo. Inspirar-se é maravilhoso - não por acaso sites como o Pinterest são um refúgio quentinho para quando a gente precisa se basear em algo.
Mas fiquei pensando que tudo o que é muito padronizado pode ser meio limitador para algumas pessoas - como se quiséssemos sempre nos enfiar em uma caixa quadradinha pensada por outras pessoas, mas que talvez não seja esta a nossa caixinha perfeita.
Que tal se não nos apegássemos tanto a padrões e estilos e construíssemos o nosso próprio? E pode ser colorido, misturado, escandinavo, minimalista, industrial ou só uma baguncinha gostosa e sem nome, bem nossa - conhecida também como lar.
Inspirar-se é maravilhoso, mas não podemos esquecer de quem a gente é.

Quando as amigas se casam

Minhas amigas estão casando. São mulheres fortes, decididas e independentes que decidiram juntar caminhos e seguir de mãos dadas com outra pessoa. Acho isso forte e bonito. Escolher se dividir e acabar somando, deixando tudo mais leve pra ambos os lados. Construir casa, desconstruir manias, partilhar o tempo.
Hoje uma das minhas melhores amigas de infância se casa com um homem maravilhoso, que se tornou também meu amigo.
Quando ela entrar na igreja, eu vou lembrar das nossas brincadeiras, das nossas fugas, das nossas tatuagens caseiras com as iniciais dos primeiros amores doloridos. Eu vou lembrar das nossas brigas e de como ela sempre me mandava telemensagem pra se desculpar. Eu vou me lembrar do primeiro beijo dela, do meu primeiro beijo; de como ela me dizia que eu era linda quando eu me achava um lixo aos 13 anos; de como eu dizia a ela que ela era linda quando tudo parecia desmoronar. Eu vou lembrar de todos os nossos amores inventados, nossos amores verdadeiros, nossos amores fingidos. Eu vou lembrar do cheiro dos lençóis da casa dela de quando ficávamos conversando até adormecer (e de como ela não suportava a ideia de eu sempre querer dormir encostando).
Eu vou lembrar também de como ela me ensinou que ser mulher não precisa ter a ver com delicadeza e calma, que falar alto e se impor também podem ser traços nossos. E a gente falou alto e se impôs e construímos juntas uma infância-adolescência cheia de coisa maluca, planos viajados e experiências precoces. Dividimos nossa história e vamos continuar dividindo.

Casar não muda nada. Casar é continuar a ser feliz com direito à celebração no meio. 

Mas quando ela entrar de branco na igreja, bem ela, que dividiu comigo os maldizeres da catequese, eu vou lembrar de tudo isso, agradecer pela nossa amizade milenar, nossos caminhos cruzados, e torcer para que ao lado de outra pessoa ela tenha a felicidade e o amor que sempre foram dela por direito - e com os quais tanto sonhamos e fantasiamos em dias difíceis, em que nunca poderíamos imaginar a noite que hoje está por vir.
"O que une as almas é o respeito gêmeo. E mútuo. A cumplicidade. A companhia. A amizade.
A paciência. A crença de que, somados, burlaremos qualquer destino.
Vão dizer: e não é o amor, afinal, quem faz este milagre, etc. e tal?
Não, não é. É a realidade que faz o sonho, de verdade, acontecer.
Doa a quem doer. Um ao lado do outro, para sempre.
Fica mais fácil viver." (Marcelino Freire)

#6 Lista da semana: Audrey além da juventude

No dia 4 de maio, Audrey Hepburn faria 87 anos. Esse ícone unânime de mulher, de atriz, de classe, de sorriso morreu em 1993, aos 63 anos, só que sempre a mostram bem jovem. Esses dias vi alguém comentando isso e realmente parei pra pensar: por quê? 
A resposta é bem clara, infelizmente: a velhice invisibiliza as mulheres. É como se não existíssemos ou não tivéssemos mais tanto valor quando alcançamos certa idade - e, pasmem, isso pode acontecer bem cedo. Não por acaso, em contraponto com homens mais velhos, são eles os charmosos; a nós, resta um outro pedaço qualquer, que grita para pintarmos os cabelos e nos submetermos a procedimentos invasivos para alcançar um padrão irreal e inalcançável. Por isso, hoje a lista é especial. Cinco fotos/momentos em que Audrey estava estonteante. E ponto. Sem "apesar de", sem "mesmo que". Diane von Fürstenberg já mandou a letra: "Meu rosto carrega todas as minhas memórias. Por que eu iria apagá-las?"

Sobre amores inventados e outras poesias: as ilustrações de Sarah Barbosa

Amores inventados, buracos no peito, corações para fora do corpo. Sarah Barbosa constrói seu universo, como ela mesmo diz, entre letras, poesias e palavrões. É tudo meio aos trancos. Os personagens não estão prontos, nem inteiros: querem demais, insistem, pedem desculpas por sentir tudo tão à flor da pele e até tentam se proteger, mas fica difícil. Embora quase sempre perdidos, se jogam na vida mesmo entre solavancos. E são leves e doces - apesar das dores irremediáveis.
Eu conversei com a Sarah sobre inspirações, processo criativo e influências: 

Como o desenho surgiu pra você? você desenha desde quando?
Desde muito pequena eu desenhava. Era um "fica quieta, menina" da minha mãe. Em todos os lugares que íamos sempre tinha uma caneta bic e uma folha em sua bolsa pra me aquietar. O desenho surgiu monocromático, na bic vermelha, no papel improvisado, na igreja, no banco, em casa.
Como você define seu universo de criação?
Meu universo de criação nasceu primeiro do que eu escrevo. Só existe um desenho depois que existiu algumas letras, alguma poesia, alguns palavrões. Eu comecei ha poucos anos uma criação mais proposital, mais expressiva e autoral. Antes eu desenhava livre, pra nada, sem nenhuma ideia. Eram desenhos aleatórios, quase de observação - uma cadeira, um gato, uma arvore. Depois que fui colocando sentido nesses objetos. E aí a poesia e a rotina me ajudaram muito. A rotina é pesada, acontecem coisas pesadas - e bonitas também - e isso tudo cai no papel de alguma forma.

Quais são suas influências?
Três mulheres me influenciaram muito: Nina Pandolfo, Luíza Pannuncio e a argentina Augustina Guerrero. A Nina pelos traços mais infantis, pelas meninas-bonecas por vezes surreais e carregadas e pelas flores - que eu levei como influência direta no que eu faço. Já Luíza e Augustina, elas têm muito de si nos desenhos. É bem simples e autobiográfico. Eu comecei por vê-las se expressando e decidi me pôr também no que eu desenho.
O que te inspira e te faz parar tudo e criar?
As relações, as conversas, as historias - minhas e dos outros - os sentimentos e a poesia. É tudo sempre real. Eu tenho uma tendência a dramatizar tudo e escrever sobre isso. Às vezes, quando eu posto alguma coisa mais pesada ou triste, algumas pessoas vêm me perguntar se eu estou bem. É engraçado, eu explico que meus desenhos são licenças poéticas também. Nem tudo se passa comigo, ou nem tudo é tão pesado daquele jeito.
   
Como é seu processo de criação? É na base da inspiração mesmo ou você tem outros "métodos"?
Não tenho nenhum método de criação, embora eu me cobre pra tê-lo. É sim totalmente na base da inspiração, do "de repente", o que me dá uma inconstância e recesso às vezes - dias e até meses sem criar nada (o que eu acho ruim). Mas quando estou atenta, mais sensível ao redor, tenho uma overdose de idéias. Aí eu guardo algumas coisas pra chover nos dias de "seca", que eu sei que virão. E aí isso me ajuda, me impulsiona outra vez. E começa tudo de novo.



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